Dieese: negociações têm o pior resultado desde 2003

set 1, 2016

Terceirizado ou quem negocia por empresa sem o sindicato ganha menos

O relatório do Dieese sobre as negociações salariais de diversas categorias de trabalhadores neste primeiro semestre de 2016 revelam números muito ruins, que lembram a conjuntura de crise anterior a 2003, quando quem governava o país era o tucano Fernando Henrique Cardoso. O relatório comprova, mais uma vez, que os trabalhadores têm que se organizar em torno dos sindicatos e centrais sindicais para barrar o arrocho, o desemprego, a retirada de direitos trabalhistas e a política do desmonte do estado que o governo Temer já anunciou que vai fazer.

DO SITE DA CUT: A mais nova versão do já tradicional balanço das negociações salariais do primeiro semestre foi anunciada nesta quinta pelo Dieese. Os resultados, como já se podia prever, são piores do que anos anteriores, em função da crise.

O relatório do Dieese pode ser lido aqui.

Os números ruins confirmam algumas máximas sindicais.

Um dos gráficos mostra que o resultado das negociações é o pior desde 2003. Ou seja, os números da pesquisa Dieese indicam que corte de investimentos e restrição fiscal sufocam a economia, comprovando que o Estado tem de desempenhar o papel de indutor do desenvolvimento.

O movimento sindical tem insistido, ao longo dos últimos anos, que os trabalhadores e trabalhadoras terceirizados têm salários, em média, 27% inferiores aos trabalhadores diretos, segundo estudos do próprio Dieese. A maioria do atual Congresso Nacional e o Temer querem a terceirização sem limites.

Negociado sobre legislado?

O balanço apresentado hoje também mostra que a negociação por categoria – a chamada convenção coletiva – obtém salários melhores que as negociações diretas com empresas – os chamados acordos coletivos.

Portanto, confirma-se a tese de que sindicatos fortes que representem todas as profissões que compõem determinado ramo de atividade conseguem resultados mais efetivos. A CUT planeja ampliar essa estratégia, promovendo campanhas unificadas entre diferentes categorias.

Outra interpretação possível para esses dados aponta para o perigo que a proposta do “negociado sobre o legislado”, defendida por Temer, representa para os trabalhadores e trabalhadoras. Segundo essa proposta, negociações diretas com os patrões teriam mais força do que a legislação trabalhista.

Números

O Dieese analisou 304 campanhas salariais. No primeiro semestre de 2016, apenas 24% obtiveram aumentos acima da inflação. 37% empataram com a inflação e 39% perderam para a inflação do período anterior.
Na média de todas as campanhas, o índice ficou 0,50% abaixo da inflação medida pelo INPC-IBGE.

Das convenções coletivas – campanhas por setor – , 25% delas tiveram aumento real, contra 15,4% dos acordos coletivos – por empresa. A imensa maioria das campanhas salariais analisadas pelo Dieese é fechada por convenção coletiva (291 contra 13).

Lava Jato

João Cayres, secretário-geral da CUT-SP, alerta que há um fator importante para a queda do emprego e o enfraquecimento das campanhas salariais que vem sendo ignorado pela mídia corporativa. “Mais do que o ajuste fiscal, que nem chegou a ser implementado, a forma como é conduzida a Operação Lava Jato está quebrando empreiteiras, paralisando o setor de construção, gás e petróleo e isso contamina toda a economia”.