NOTA DE SOLIDARIEDADE DA FETEERJ E SINPROS AO PROFESSOR DA UFRJ, FRANCISCO TEIXEIRA

dez 6, 2025

A Federação dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino no Estado do Rio de Janeiro (FETEERJ) e os Sindicatos dos Professores (SINPROs) manifestam sua total solidariedade ao professor Francisco Teixeira, da UFRJ, referência nacional nos estudos de História Moderna, diante das intimidações, ameaças e ações judiciais que vem sofrendo.

O professor denunciou que está sendo alvo de um processo movido por um general da reserva, que o acusa de calúnia, difamação e “falsificação da história”, exigindo inclusive indenização e a cassação de seus títulos acadêmicos (a nota pública de Teixeira está copiada ao final deste texto). O professor também vem recebendo mensagens agressivas com ameaças à sua vida e à sua integridade física.

Fazemos questão de repetir as palavras do próprio professor: “Nada me deterá ou me amedronta (…). Nada deterá a história nem aqueles que a estudam”.

A FETEERJ e os SINPROs reafirmam sua defesa intransigente da liberdade de Cátedra, da pesquisa histórica e do trabalho dos profissionais da educação – assim, expressamos nosso irrestrito apoio ao professor Francisco Teixeira, cuja trajetória de mais de cinco décadas em defesa da democracia e da verdade histórica não será silenciada por pressões ou ameaças.

Seguimos ao lado de todos os educadores, defendendo a democracia, a memória e a verdade.

Leia a nota pública do professor Francisco Teixeira:

Rio de Janeiro, 03/12/2025

“Um passado que não passa…”

Conforme a famosa frase do historiador alemão Ernst Nolte, vivo hoje um triste reviver de tempos que imaginava superados. Hoje fui intimado por um oficial de justiça em um processo no qual sou acusado de calúnia, difamação e falsificação da História (sic!!!) pelo conhecido general Álvaro Pinheiro, que exige indenização e a cassação de meus títulos universitários. Desde algumas semanas, venho também recebendo grosseiras ameaças contra minha vida e minha integridade física, de origens desconhecidas. Agora, meu trabalho livre de cinco décadas como historiador está sob risco de ser silenciado por meio de ameaças e lawfare.

O fato de a transição democrática brasileira ter sido estranha ao conceito de justiça de transição permite, pela terceira vez, que eu e meu trabalho sejamos colocados sob risco de mordaça. Trata-se de um caso único, em uma democracia moderna, de um historiador ser ameaçado por um membro ativo de um regime ditatorial já encerrado.

Aos 71 anos de idade, tenho, entretanto, a mesma força dos 18 ou 19 anos, quando lutei, com milhares de outros brasileiros, pela democracia e pela liberdade do Brasil. Mais que julgar um professor, prometo àqueles que querem calar a História que tal processo será levado adiante como um processo daqueles anos sombrios. Tais ameaças antidemocráticas serão transformadas, de uma ameaça pessoal, em um julgamento da própria ditadura e de seus agentes.

Os anos que passei no Ministério da Defesa e em suas organizações militares — onde fiz verdadeiros amigos — servirão de base para expor um mundo sobre o qual ainda não se fez luz. Estou velho e cansado e, no entanto, com o coração batendo forte do lado certo do peito, orgulhoso de ter lutado o bom combate, o que meus acusadores, com certeza, não podem dizer de suas carreiras. Volto ao combate certo de que escreverei mais livros e artigos sobre tempos tão sombrios. Nada me deterá ou me amedrontará.

Sou historiador da mesma matéria, talvez de menor gênio, que Marc Bloch. Historiadores, como elefantes, não esquecem e não se amedrontam.

Francisco Carlos Teixeira da Silva

Professor Titular de História Moderna e Contemporânea / UFRJ

Professor Emérito de Teoria da Guerra / Eceme / Exército Brasileiro

Doutor Honoris Causa — UFS.

FONTE DAS INFORMAÇÕES: DIÁRIO DO CENTRO DO MUNDO