Faleceu neste sábado (06/04), aos 91 anos, Ziraldo, o homem cujo nome se confunde com a criação no Brasil da moderna arte do cartoon político, da história em quadrinhos e do desenho publicitário, tudo aliado a uma militância de esquerda e apelo popular.
Ziraldo começou a trabalhar nos anos 50 na Folha da Manhã, atual Folha SP, com uma coluna humorística. Em 1960, lançou a primeira revista em quadrinhos brasileira feita por um só autor, “Turma do Pererê”, que também foi a primeira história em quadrinhos a cores totalmente produzida no Brasil. A “revistinha”, mesmo sendo um sucesso, acabou em 64, em protesto contra o golpe militar.
Ziraldo, insatisfeito com a cooptação da grande imprensa ao golpe de 64, junto com os jornalistas Jaguar, Tarso de Castro, Sérgio Augusto, Henfil, Millor e outros, participou do semanário impresso de oposição direta ao regime, “O Pasquim”, fundado em 1969, em plena vigência do AI5.
O Pasquim, desde o início, foi um campeão de vendas nas bancas, chegando a 250 mil exemplares, comprovando a necessidade de um jornal corajoso e aberto a temas até então fora da impressa comum, como ecologia.
O Pasquim atingiu seu auge nos anos 70, tendo participado ativamente da campanha pela anistia e redemocratização do Brasil; no entanto, não sobreviveu à censura da ditadura e ao aperto econômico.
Ziraldo nunca dissociou sua atuação profissional da atuação política, sempre em defesa da democracia e justiça social. Por isso, se havia um movimento democrático, lá estava o desenho do cartunista em apoio – são famosas, por exemplo, suas artes anuais para a Feira da Providência, no Rio de Janeiro, desde a sua criação, em 1961, por outro grande brasileiro, Dom Hélder Câmara, com o objetivo de angariar fundos para projetos sociais.
Ziraldo nunca se absteve de se posicionar politicamente, tendo sido filiado ao Partido Comunista já nos anos 50; se colocou abertamente contra a ditadura (e foi perseguido profissionalmente por isso); fundador do Psol (criou a logomarca do partido) e esteve na linha de frente contra o impeachment golpista da presidenta Dilma, em 2016, e contra a ascensão da extrema direita bolsonarista.
A Feteerj e os Sindicatos dos Professores homenageiam esse grande brasileiro, cuja vida confirmou, mais uma vez, que a expressão “se doou por um País mais justo e soberano” nunca pode ser considerada um clichê – Ziraldo, de fato, lutou por um Brasil melhor.
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