Desembargador libera redação racista, machista ou assassina no Enem

out 26, 2017

 

DO SITE TIJOLAÇO:

Imaginem uma redação destas no Enem:

A maior bobagem que já foi escrita foi a Declaração dos Direitos Humanos. Como considerar um ser humano equiparável a mim, que sei escrever, que sou capaz de  expressar minhas ideias com boa ortografia e que já fui à Disney e a Miami a um negro de favela, cuja vida é ali, no meio da sujeira, que é inferior? Como, aliás, são inferiores as mulheres, que tinham mesmo é de ficar em casa, lavando roupa, especialmente as nordestinas, que até nisso são inferiores, porque é frequente que não tenham as adequadas noções de higiene. Eu sou, evidentemente, melhor que esta ralé e, por isso, acho que os professores que vão corrigir esta redação – considerando o respeito que devem à Justiça, onde a meritocracia é a lei – têm a obrigação de dar-me a nota máxima e fazer com que estes vagabundos sustentem, com os impostos que pagam até no miserável arroz com feijão, financiem um grau de educação compatível com o que sou: um ser superior a eles.

Pois acredite, com a decisão do  desembargador federal Carlos Moreira Alves, do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, impede-se que os corretores das redações do Exame Nacional do Ensino Médio apliquem do item 14.9.4 do edital de 2017, que atribui nota zero, sem correção de seu conteúdo, à prova de redação que seja considerada desrespeitosa aos direitos humanos.

As normas de correção já eram ruins, porque determinavam que não se constituem atentados aos direitos humanos aqueles que, sob a cobertura do Estado e da lei, vilipendiarem a vida de um ser humano.

Mas  Sua Excelência “liberou geral”.

Um amigo recorda a “bem-escrita” carta do assassino de Campinas que  matou a ex-mulher, o filho de oito anos e mais dez pessoas na virada do ano.

“Filho, não sou machista e não tenho raiva das mulheres (essas de boa índole, eu amo de coração, tanto é que me apaixonei por uma mulher maravilhosa, a Kátia) tenho raiva das vadias que se proliferam e muito a cada dia se beneficiando da lei vadia da penha!” (…)“(…) eu ia matar as vadias (eu já tinha a arma e raspei a numeração pra não prejudicar quem me vendeu, ela precisava de dinheiro). Família de policial morto não recebe tantos benefícios com a família de presos. Cadê os ordinários dos direitos humanos? Estão sendo presos por ajudar bandidos né? Paizeco de bosta.

Se ele a escrevesse para o Enem, segundo o desembargador Carlos, não poderia ter levado zero.

O desembargador atendeu a pedido da Associação Escola Sem Partido, tendo em vista a proximidade da realização das provas, que já começam no dia 5 de novembro.

Pelo visto, no dia 5 de novembro de 1.517.

PS. Em O Globo, os organizadores da prova esclarecem o que era considerado contrário aos direitos humanos: “defesa de tortura, mutilação, execução sumária e qualquer forma de “justiça com as próprias mãos”, isto é, sem a intervenção de instituições sociais devidamente autorizadas (o governo, as autoridades, as leis, por exemplo); incitação a qualquer tipo de violência motivada por questões de raça, etnia, gênero, credo, condição física, origem geográfica ou socioeconômica; explicitação de qualquer forma de discurso de ódio (voltado contra grupos sociais específicos)”.  Agora, pode, diz Sua Excelência.

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